O INTERCÂMBIO DO CLUBE FILATÉLICO DO BRASIL COM A ECT NOS PRIMÓRDIOS DA ASSESSORIA FILATÉLICA DA PRESIDÊNCIA - por Maria Luíza H. L. de Mello

08/07/2012 14:46

Graças à solicitação do Presidente do Clube Filatélico do Brasil, Ferdinand Hidalgo, viajei no tempo para relatar alguns fatos presenciados há mais de 28 anos, no contato com esta instituição tradicional e nobre da Filatelia Brasileira, possuidora de um quadro social de renomados filatelistas, pessoas extraordinárias, de notável saber filatélico, com grandeza de coração e disponíveis a dividir o conhecimento com todos os que apreciam o selo postal.

Criada em agosto de 1972, por Resolução do Conselho da ECT, com o objetivo dedesenvolver a Filatelia no Brasil, a Assessoria Filatélica foi instalada no número 290 da Candelária, Rio de Janeiro e fazia parte do Gabinete da Presidência da ECT. Estava relativamente próxima do CFB. Uma vez por semana, religiosamente, recebíamos as visitas do Presidente do CFB, Mirabeau Pontes, acompanhado do sócio n.º 1 e fundador do CFB, Hugo Fraccaroli, sempre prontos a colaborar dando sugestões e informações. Recordo-me com saudades do Presidente Mirabeau Pontes, um "gentleman", a convidar-nos para dar aulas no tradicional Curso de Filatelia, ministrado ininterruptamente desde 1948, na Sede do Clube. Desde que comecei à participar da equipe da primeira Assessora Filatélica da ECT, Auta Barreto Phebo, que prestava assistência ao Presidente Haroldo Corrêa de Mattos nos assuntos pertinentes ao selo postal brasileiro, assumi de imediato a coordenação da área de Planejamento, Arte e Controle da Produção do Selo Postal, peças filatélicas (envelopes de 1º Dia/FDC e cartões postais) e promocionais (editais e cartazes), especializando-me nesse trabalho técnico ao fazer um estágio na Casa da Moeda do Brasil, que naquela época fabricava todos estes produtos dos Correios.

Como intermediários entre aqueles que desenham, os que imprimem, aqueles que usam e os que colecionam selos, sentíamos necessidade de sermos ativos e participantes, dando a nossa contribuição junto ao público amante da filatelia. O curso anual, estava sempre com o salão cheio de alunos entusiasmados e ávidos pelo aprendizado e ampliação dos conhecimentos filatélicos. Por vários anos, 1974 a 1984, passei a experiência aos novos e veteranos, sobre todos os procedimentos da Produção do Selo Postal, desde a escolha dos temas, a aprovação dos 30 selos pela Comissão Filatélica da qual fez parte o CFB até a criação da FEBRAF, a escolha dos artistas renomados e experientes na arte de desenhar e pintar miniaturas, as etapas dos processos de fabricação no Departamento de Matrizes, tipos de impressões e acabamentos das estampas de selos na Casa da Moeda, a distribuição para as Diretorias Regionais da ECT e as Cerimônias de Lançamentos. As aulas eram sempre ilustradas com slides, complementando as informações. Ao participar do Curso do Clube, tive a oportunidade de ampliar os conhecimentos filatélicos sobre as várias formas de colecionar selos além de ter o privilégio de nas comemorações dos 30 Anos do Curso, em 1976, compor o quadro de professores ao lado de grandes nomes da Filatelia Brasileira: Gen. Mirabeau Pontes (Presidente do CFB); Dr. Heitor Fenício (ABRAFITE -Associação Brasileira de Filatelia Temática); Ângelo Zioni (Presidente da ABRAJOF - Associação Brasileira de Jornalistas Filatélicos); Francisco Crestana (Jornalista Filatélico do Estado de São Paulo, membro da ABRAJOF); Karl Lothar Jasche (Diretor da Sociedade Philatélica Paulista - SPP); Heitor Sanches (Vice-presidente da SPP).

O Vice-presidente do CFB Hugo Fraccaroli atento à prática que na época vinha se impondo junto aos jovens de apenas comprar e vender selos com a finalidade exclusiva de lucro em dinheiro, manifestava-se contra esta mentalidade e alertava que isto era exploração dos jovens e que seria nefasto para as atividades de futuros filatelistas amadores. Colecionar, juntar, manusear, trocar, dar e receber selos é útil, agradável, interessante passatempo e que só o comércio poderia ser um mau desvio para um bom caminho de seu futuro.

Em setembro de 1973, a ECT oficializou por meio de um contrato com o CFB, a orientação que o Clube já vinha prestando à equipe da Assessoria Filatélica, espontaneamente.
O contrato previa:
* Orientar os Correios na organização dos seus arquivos de selos. O material enviado pela UPU, órgão que recebe de todos os países uma quota de selos emitidos e os distribui em 3 espécimes de cada a seus filiados. Este material estava acumulado há mais de 40 anos nos cofres. Da primeira parte previa a separação por países e por ano de emissão e depois a montagem, executada em 2 anos pelos funcionários da Assessoria Filatélica, Ibrahim Machado Continentino e Lia Esteves de Azevedo, que já possuíam experiência em como lidar com os selos, por terem também trabalhado muitos anos no CFB.
* Organização da Coleção de Selos do Brasil, existentes nos Correios, substituindo uns 200 selos estragados e completando os cerca de 100 que faltavam.
* Procurar uma coleção completa do Brasil, para os Correios adquirirem, se possível de selos novos, excluindo os 3 últimos valores dos Inclinados Segundo Hugo Fraccaroli esta foi a tarefa mais difícil.

Após 4 meses de buscas intensas, 20 dias antes de vencer o contrato em 15 de março de 1974, encontraram a coleção de acordo com as exigências da ECT. Três dias depois,feito os exames de cada selo, foi apresentada com documentação aos Correios,que deu o aval após 3 dias e em 13 de março o Clube recebeu a importância de Cr$ 30 000,00 (trinta mil cruzeiros) estipulada no contrato, que muito auxiliou o Clube. Graças ao inestimável serviço do CFB, os Correios passaram a possuir duas valiosas coleções completas que comporiam o acervo do Museu Postal. Dentre as diversas iniciativas conjuntas ECT/ Assessoria Filatélica - CFB, em termos de exposições, tivemos: a LUBRAPEX, Exposição luso-brasileira, manifestação filatélica, sugerida como promoção turística para a cidade do Rio de Janeiro, surgiu durante um encontro da Diretoria do CFB, Pres. Mirabeau Pontes, Vice-Pres. Hugo Fraccaroli e o Secretário de Turismo Diplomata João Paulo do Rio Branco, tendo o inteiro apoio do Clube Filatélico de Portugal.

A realização da 5ª Exposição Filatélica Luso-brasileira - LUBRAPEX 74, no magnífico Museu de Arte de São Paulo, no período de 26 de novembro a 4 de dezembro de 1974: A decisão de se fazer essa exposição, além de outras resoluções importantes, foi tomada durante o 1º encontro do recém nomeado (abril de 1974) presidente da ECT, Adwaldo Cardoso Botto de Barros, com os diretores do Clube Filatélico do Brasil, que ficaram tranqüilos, certos da continuidade e do aumento da participação dos Correios em favor da tão querida Filatelia. Desde a 1ª realização em 1966 até a última, a XVII LUBRAPEX realizada em abril de 2000, na Bahia, os Correios sempre deram total apoio ao evento. Como representante da ECT, durante a exposição de selos brasileiros realizada de 1 a 16 de outubro de 1974, no Centro de Estudos Brasileiros do Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Buenos Aires, Argentina, fiz uma Conferência sobre a Produção de Selos Postais Brasileiros, salientando as dimensões alcançadas pelo Produto. Tive na ocasião a oportunidade de assistir à inauguração da exposição PRENFIL 74 - UPU, Exposição Internacional de Imprensa Filatélica, em comemoração ao Centenário da União Postal Universal, bem como aos Cem Anos da "La Revista Philatélica" 1ª publicação argentina de filatelia e aos 50 Anos de atividades do historiador filatélico e colecionador Walter B. L. Bose, organizada pela ACFA -Associação de Cronistas Filatélicos da Argentina. Na ocasião foi entregue uma medalha de vermeil como prêmio da ECT. Como delegado do Clube Filatélico do Brasil, representando o nosso país e jurado da exposição estava o Gen. Euclydes Pontes, que acabava de ser eleito por sua ação de destaque neste setor, presidente da União Mundial São Gabriel , grupo temático de Religião.

Em 2 de dezembro de 1975, foi inaugurada no Museu Imperial, Petrópolis, a Exposição Comemorativa ao Sesquicentenário de D. Pedro II, participando apenas coleções com a efígie de D. PedroII. Constou do evento Lançamento de Selo, Carimbo e Cartão Postal. Como esta, muitas outras exposições e mostras foram realizadas comprovando a valorização da Filatelia e o comprometimento dos Correios com a mesma.

O ressurgimento das BRAPEX, patrocinadas pela ECT: Coube ao CFB a organização da 3ª Exposição Filatélica Brasileira -BRAPEX III, realizada em Brasília, de 22 a 28 de junho de 1978, cuja Abertura solene ocorreu na Inauguração do Edifício Sede da ECT, com direito a lançamento de selo, folhinha filatélica e carimbos comemorativos. A matéria do Catálogo " Atrativos dos Selos Ordinários da República " foi apresentada pelo Dr. Mário Branco . Valiosas e estudadas coleções de alguns campeões brasileiros foram expostas. Um fato inesperado, imprevisível ocorreu na madrugada do dia 24 de junho, provocando muita consternação aos presentes na exposição, que foi o falecimento do 1º Tesoureiro do CFB Newton Sampaio Ferraz. A ECT tomou todas as providências transladando o corpo para o Rio de Janeiro, no avião de carga do Correio. Voltei num avião de passageiros e fiquei no aeroporto com a família aguardando a liberação do corpo. A Exposição Filatélica do Rio de Janeiro - EXFILRIO, nascida em 1978, com a finalidade de congregar os novatos que expõem pela primeira vez ou veteranos com novas coleções está mais viva do que nunca, atingindo a sua VIII versão em 30 de julho a 8 de agosto de 2001, comemorativa dos 70 Anos do Clube Filatélico do Brasil. Frase apurada de quem sabia das coisas, Hugo Fraccaroli, figura ímpar nas críticas e averiguações, a propósito de exposições: " A maioria das falhas e faltas que se verificam ainda, tem como base a intervenção de pessoas ignorantes do assunto e que por esta ou aquela razão ou motivo pessoal faz valer o seu desconhecimento e impõe isto ou aquilo que não está certo".

A ECT fez um acordo com a Casa da Moeda do Brasil para comprar o conjunto de selos e matrizes que estavam nos cofres daquela instituição, com o objetivo de compor o acervo do Museu Postal, em Brasília. Mais uma vez o CFB prestou sua valiosa contribuição, participando da Comissão da qual fui Coordenadora, sendo representado pelo Diretor de Trocas Luiz Pandiá Braconnot. Iniciamos o trabalho de levantamento e verificação do material em 11.10.1978, selecionando as estampas e as provas de selos, terminando essa etapa em 30.11.1978, com a assinatura da Ata da Comissão e do relatório de 380 páginas. Em 5.12.1978, reiniciamos o trabalho da Comissão para a compra das matrizes.

Em 19.4.1979 iniciamos a separação de todo o material que estava no cofre, num total de 1806 matrizes de estampas de selos, sendo a grande maioria em Xilogravura, gravura em madeira, uma preciosidade, um trabalho belíssimo utilizado na impressão tipográfica, no período de 1890 a 1953, em especial para as Séries Regulares. O nosso grupo trabalhou neste projeto encerrando-o com a assinatura da Ata de Compra em 2. 7.1980 e do Relatório em 7.7.1980. As peças seguiram para o Museu Postal, Brasília, pela RPN de domingo dia 19.9.1980.

O CFB é uma sólida organização, sem dúvida um exemplo do que uma entidade pode fazer em beneficio da Filatelia de um país e porque não dizer da Filatelia Mundial, pois esteve diretamente filiada a FIP, representando oficialmente o Brasil até 1978,quando da criação da FEBRAF.

O Clube Filatélico do Brasil passa a ocupar um lugar dentre as principais e mais importantes entidades filatélicas do mundo, após a organização da BRASILIANA 79, patrocinada pelos Correios, realizada no período de 15 a 23.9.1979. Ao lado das: The Royal Philatélic Society (Londres) The Collectors Club Philatelist (Nova York) e The American Philatelic Society (State College), mas cada qual com suas peculiaridades, umas mais outras menos elitistas no sentido de só se preocuparem com a Filatelia adiantada. O CFB mais democrático, mais completo no mundo da filatelia, cuidando da Filatelia em geral, orientando a todos os que se dedicam a colecionar selos, em todas as faixas de idade, ensinando-os e ajudando-os à conseguir selos e peças para suas coleções por meio de leilões de selos e peças.

No Salão Washington do Hotel Nacional, local da BRASILIANA, o CFB e a ABRAFITE receberam um estande patrocinado pela ECT, em homenagem e reconhecimento à estas instituições pelos serviços prestados para a realização e o sucesso da 1ª Exposição Interamericana de Filatelia Clássica e 3ª Exposição Mundial de Filatelia Temática. O número de coleções do Brasil foi assombroso, tanto em quantidade quanto em qualidade.

O estande foi utilizado para propaganda, distribuição de publicações, encontro de associados. Cinco associados do CFB fizeram parte do corpo de jurados : Mirabeau Pontes, Euclydes Pontes, G.H. Faria Braga, Hugo Fraccaroli (Presidente do Júri) e Antônio Leal de Magalhães Macedo. Foi um grande trabalho cultural e histórico.